realidade

zona de conforto.

nunca sei o que responder quando me perguntam o que eu faço da vida. porque eu nunca faço uma coisa só, nunca soube fazer uma coisa só. minha melhor resposta é “sou de humanas” ou “sou criativa”. mas é impressionante ver que quanto mais eu saio da minha zona de conforto, mas as coisas lindas e geniais aparecem na minha vida. quando eu sento na minha cadeira e fico na zona de conforto, tudo fica calmo e no lugar. tudo toma a mesma forma. mas quando as coisas saem do lugar, a vida fica mais atraente e mais bonita. e isso só pode ser coisa de criativo. nunca vi um criativo que nunca passou por uma depressão e não produziu mais naquela época. nunca vi um criativo que não viaja com um bloquinho e uma câmera na mão – nem que seja a do iphone. nunca vi um criativo que tenha uma só profissão. minha zona de conforto é o design, mas ele é tão chato. a zona de conforto é uma coisa tão chata e monótona… pra que ficar em um lugar assim, se eu posso dar um rolê e conhecer mais mil lugares?

meu problema sempre foi querer conquistar o mundo. e vai continuar sendo. o lado bom é que eu e muita gente vemos isso como uma solução. :)

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realidade

aqueeeeeela retrospectiva. e que venha 2015.

OS PRIMEIROS PASSOS.

em 2012, uma semana depois do carnaval eu acordei no sábado de manhã cedo e fui pra feira de orgânicos. sozinha, sem saber o que ia encontrar, sem saber o que comprar, sem saber escolher nem uma batata, sem saber direito o que era couve e o que era couve manteiga. mas eu tinha assistido um vídeo da feira, lembrado que frequentava a mesma quando era criança junto com minha vó, tinha começado a conviver mais com veganos, tinha sobrepeso, não fazia ideia se não tinha alguma doença séria por conta de anos e anos de uma alimentação baseada em congelados, bolachas e salgadinhos. então peguei o dinheiro da balada, pulei da cama, mexi a bunda e fui pra feira. cheguei lá bem tímida e saí rindo sozinha. tive que pedir pra todos os agricultores me ajudarem a escolher qualquer coisa que eu queria comprar e eles prontamente me ajudavam com um sorriso gigante no rosto e me explicavam como escolher aquele produto. tive que perguntar se tinha o que eu queria e muitas vezes o negócio estava na minha frente, mas todos me ajudaram. parei de banca em banca, conversei com todos. todos tinham algo pra me ensinar. gastei horrores – de verdade, gastei 70 reais nesse dia e só lembro o valor, porque foi a vez que mais gastei na feira na vida. voltei pra casa com quilos de mirtilo, batata, batata doce, couve, abacaxi, morango, tomate… e não sabia o que eu ia fazer com tudo aquilo, não tinha a mínima ideia de como armazenar corretamente e muito menos como higienizar. mas no outro sábado, eu acordei cedo de novo e fui pra feira. e de novo pedi ajuda e fui atendida com sorrisos nos rostos e “bom dia e boa semana” por todos. e com o tempo, aquilo virou rotina. era o meu momento sozinha, era a minha hora e minha meditação. era quando eu repunha minhas energias. e eu amava! não trocava aquele momento por nada!
eu ainda saía de noite e ás vezes – bem, na maioria – virava a noite assistindo filmes, lendo, estudando, fazendo alguma maratona. então perdi a conta de quantas vezes fui na feira depois da balada, quantas vezes fui naquela ressaca infernal que a gente acorda até meio bêbado e no inverno, não tinha vergonha na cara e fui várias vezes de pijama mesmo. aquela calça de moletom e aquele moletom velho já me acompanharam muito pela FAE.

A DECISÃO FINAL.

quatro sábados depois do meu primeiro na feira, decidi que bem… eu realmente precisava saber da minha saúde. e ia ter que encarar o medo de fazer exames e descobrir algo ruim e o pavor de agulhas. afinal, era pro meu bem. e eu não tinha muita vontade de morrer cedo. eu também precisava MUITO emagrecer, porque nem tinha mais baixo-estima, era chão-estima mesmo – que eu disfarçava muito bem enchendo a cara. como nessa época tinha unimed ainda, marquei consulta com o meu neurologista, cardiologista, pneumologista e dermatologista. a asma até que andava bem apesar de eu fumar. a cabeça andava numa boa, mas o sono não. o coração foi liberado pra altas emoções. a dermatologista não ficou feliz com o estado da minha psoríase. com tudo isso numa boa, fui pro guia médico e liguei pra todos endócrinologistas do convênio e o que me atendesse ainda naquela semana, me conquistava. não foi tão fácil e precisei esperar ainda mais uma semana, mas consegui uma consulta. a minha pressa de consultar era a mesma pressa de mudar tudo na minha vida. na primeira consulta, ela me examinou, me deu uma lista de exames e me proibiu de comer açúcar e fritura. mas eu só comia congelados todos os dias e em todas as refeições. era pizza, queijo, lasanha, pastel, batata frita, pão branco, manteiga, requeijão, queijo amarelo, leite e tudo com muito sal. então precisei perguntar pra ela o que eu tinha que comer nas refeições, mas ela não entendeu muito bem e me respondeu que era “comida, o que todo mundo come”. fiquei puta da cara com aquela resposta na hora e ela fez uma listinha de coisas básicas que eu tinha que comer. acontece que desde criança, desde que eu comecei a comer, láááá quando era bebê ainda, eu não gostava de comer coisas misturadas, picadas, nada no mesmo prato e cuspia carne quando me davam. sempre fui a chata que pedia pra trocar o prato no rodízio de pizza a cada sabor diferente. e pra entender mais ainda meu problema alimentar: quando criança, nem pizza com molho eu comia. era só a massa e o queijo mesmo. e nas vezes que precisei provar uma comida diferente das congeladas, eu chorei. chorei em jantas e almoços na casa de amigos, sempre tive pavor de comer fora de casa e evitava a todo custo, chorava e ficava puta quando alguém criticava minha alimentação. e odiava comer carne. ela disse que eu ia ter que superar isso e que não importa como eu ia comer, mas que eu precisava comer. se eu não queria comer todos os legumes e verduras juntos, que colocasse um do lado do outro no prato. se não queria comer arroz com feijão, que comesse então o feijão e depois o arroz, mas que era importante comer os dois juntos. e me mandou ir embora e voltar com meus exames o mais rápido possível. isso foi uma quarta-feira e eu fiz os exames no sábado. passei a manhã inteira dentro da unimed tirando tubo de sangue e fazendo curva de lactose. na segunda fiz a de glicose e tomografia abdominal. peguei os resultados e voltei lá. meu sobrepeso e alimentação louca me deram de presente uma pré-diabetes e outras alterações pequenas no hemograma. eu não era intolerante a lactose e não tinha gordura no fígado, mas tinha psoríase. ela fez mais uns cortes e adaptações e me mandou pra um alergista e imunologista. uma amiga me recomendou o dela e foi nele mesmo que eu fui. só que o cara era mais louco que eu e a consulta levou duas horas. precisei contar tudo isso pra ele, precisei falar de todos os problemas de saúde que eu já tinha tido alguma vez na vida, todos os remédios que já tinha usado, precisei contar todos os meus medos. e lá vieram mais requisições da unimed, outra curva de lactose porque ele tinha certeza que eu tinha sim problema com lactose e uma indicação pra ir numa nutróloga o mais rápido possível. fazia um mês que eu tinha começado com a endocrinologista e precisei também repetir os exames dela. também tinha mudado já a alimentação e criei algumas regras pra mim: comer feijão preto todo o sábado, experimentar coisas novas sempre, comer de 3h/3h, fora os cortes que ela tinha pedido. nesse tempo, eu já não comia porcaria porque eu simplesmente não comprava mais porcaria e na feira a coisa funcionava na base do: “o que é isso?” “x” “hm, nunca comi. me dá :D”. chegava em casa e comia o alimento novo no almoço. e desenvolvi a mania de comer legumes e verduras cruas, aham. a endócrino tinha ficado feliz, já tinha perdido algum peso e conseguia sorrir de felicidade. planejar minha alimentação da semana na feira e descobrir receitas novas eram minha nova paixão. minha saúde tinha melhorado muito e tudo o que eu precisava era perder peso. depois de 1 mês de fila de espera na nutróloga, finalmente a secretária ligou pra marcar a consulta. e lá fui eu, saltitando de felicidade. já tinha perdido 10kg nesse tempo e depois de uma “briga” com a nutróloga, já tinha também virado vegetariana de vez. ela queria que eu comesse carne porque achava importante e necessário, então me forcei a comer 3x por semana, por um mês. mas né… eu não era muito fã de carne. então parei de comer, voltei lá e ela disse que tudo bem, era a minha escolha, mas ela não gostava. por outro lado, a nutróloga aceitou muito bem. lembro até hoje que eu falei que sabia que ela não ia gostar, mas que eu só voltaria a comer carne por alguma questão de saúde e essa era minha escolha. a gente conversou sobre o vegetarianismo, sobre o motivo da minha escolha e disse que tudo bem, afinal, um monte de gente no mundo tinha feito a mesma escolha que eu e então a gente ia trabalhar nisso. minha vontade foi pular a mesa e dar um abraço nela na hora. além de entender todas minhas questões alimentares, ela era a primeira médica que não me julgava por escolher ser vegetariana. pelo contrário, me perguntou se eu tinha planos de um dia ser vegana. ela me deu uma ilustração da pirâmide alimentar vegetariana, outra com tudo o que eu precisava comer em cada refeição e suas quantidades e uma tabela explicando o que eu tinha falta no organismo quando tinha vontade de comer algo. me disse que a escolha maior eu já tinha feito e que eu precisava nessa fase, começar os exercícios físicos, podia escolher qualquer um. e no sábado, ela me enviaria minha dieta que não era pra chamar de dieta.

funcionava assim: todos os dias eu ia várias vezes na geladeira conferir o que eu precisava comer todos os dias, por semana e uma vez ou outra. antes de me alimentar, eu conferia no prato vegetariano o que precisava ter no meu prato e as quantidades. depois ia na minha dieta conferir o que ela tinha separado pra mim. pra não enjoar de nada, ela me deu a dieta com grupos alimentares. meu almoço era “grupo a + grupo b + proteína + carboidrato”, e era exatamente assim que vinha escrito. junto com isso tinham os grupos separados em tabelas e o que eu poderia substituir pelo quê. se era meu dia do grupo A, eu podia comer tanto abacaxi quanto abacate. mas também podia comer uma fatia de pizza, um bombom dieta, ou o que tivesse vontade, já que a ideia não era me proibir de comer nada. acontece que quando eu coloco algo na cabeça ninguém tira com facilidade. portanto se não fazia parte do plano alimentar ou se não era de nenhum dos grupos alimentares, não me servia. e assim descobri que não precisava comer um bombom, porque poderia comer tâmaras e fazer brigadeiro de tâmaras. se eu comesse uma banana, fosse in natura, em sorvete, no forno, pura ou com canela, eu não tinha vontade de comer doce tão cedo. e assim fui descobrindo aos poucos essa nova vida.

claro que não foi fácil. eu tinha feito uma escolha e a escolha era: eu. e se eu já sofri por tanta coisa e aguentei, sofrer por mim sequer era considerado sofrimento. eu ia tentar de novo comer algo que eu não gostava e tentar aprender a gostar, mesmo que aquilo me fizesse chorar.

A BICICLETINHA.

mas e o esporte? eu era aquela criança que tinha asma e ficava sentada em um canto durante a aula de educação física porque se corresse por 2 segundos, ia parar no oxigênio. fui internada por três anos seguidos com pneumonia. era fumante passiva desde bebê, já que minha mãe fumava dentro de casa e perto de  mim o tempo inteiro. e quando cresci, eu mesma virei fumante. como eu ia praticar esporte qualquer assim? não dava. mas… eu tinha um compromisso comigo e precisava fazer alguma coisa. por acaso do destino ou não, nessa época todos meus amigos começaram a andar de bicicleta na cidade. mas eu nunca tinha tido uma bicicleta na vida e não sabia andar. era hora de ver pra que eles serviam. enchi o saco de todo mundo pra me ensinar, enchi o saco do meu pai pra me conseguir uma bicicleta. chegou a bicicleta num dia e no outro meu amigo veio me ensinar depois do trabalho. me levou pro parque, me mandou subir e pedalar. a gente ficou umas 3h no parque e 2:30 foram eu tentando aprender equilíbrio, aprendendo onde meus pés precisavam estar, o que eu precisava fazer, como eu ia fazer a bicicleta parar e principalmente que se eu por acaso caísse, o chão não ia me morder. na outra meia hora, depois de umas tentativas, consegui andar uns metros e fazer curva. meu amigo era meio pai ensinando o filho e queria ir atrás de mim pra me soltar sem eu ver e foi assim que dei minha primeira minúscula pedalada e me apaixonei pela sensação de vento no rosto e liberdade. e nesse dia eu já tinha me inscrito pra uma pedalada em grupo 2 semanas depois. fiquei triste por saber que não ia voltar pra casa pedalando ainda (muito menos no trânsito!!!), mas feliz porque tinha aprendido. depois desse dia, conversava com o meu amigo sempre e ele sempre me perguntava como eu estava indo, mas o fdp nunca mais apareceu pra me ajudar! eu tinha uma bicicleta em casa, tinha andado alguns metros no parque e não aguentava ficar olhando ela parada num canto de casa. comecei subindo nela no corredor do prédio e testando o equilíbrio sem pedalar. depois testei pedalando no corredor do prédio, mas isso só durou 2 tentativas. decidi que eu precisava de mais espaço. fui pro parque. era eu, o medo e a bicicleta do meu pai de 18 marchas que eu não sabia nem mudar direito. quando subi no negócio, pedalei, ela foi pra frente e eu não caí… ahhhhh, daí não parei mais. todos os dias eu tava no parque. baixei vários aplicativos pra medir quilometragem até achar o <3 Strava <3 e todos os dias eu tinha uma meta: andar mais que no dia anterior, fazer curvas melhores, aprender a desviar dos obstáculos, perder o medo de passar por cima de galhos ou pedras, subir e descer alguma lomba. e todos os dias eu estava lá procurando a bicicleta que seria a minha e enchendo o meu colega ciclista de perguntas. perdi a conta de quantas bicicletas me apaixonei nesse tempo. me inscrevi de novo naquela pedalada que eu queria ir e fui. fui de carro, tirei a bicicleta do carro e pedalei. subi um elevado sofrendo com uma criança do meu lado subindo dando risada. desci o elevado sem controle da bicicleta e quase caí e quase derrubei todo mundo envolta. passei na frente da minha casa, do nada tudo ficou preto e eu decidi que aquele era o meu limite no dia. abandonei o passeio e voltei pra casa, passando mal e dando risada. meu pai deu risada da minha cara dizendo que sabia que eu não ia conseguir acabar. minha mãe falou que pelo menos eu fui, que era claro que não ia acabar, mas que eu tinha andado bastante. e eu? fiquei puta com os dois dizendo que eu não ia conseguir. que porra era essa?! aí sim eu aumentei a quilometragem diária. aguentava 5km no parque e não aguentava ainda 15km na pedalada? essa porra ia mudar e logo. e mudou. quando descobri o <3 Strava <3, usava pra marcar a quilometragem do dia, depois cuidava a velocidade e por último fui atrás de seguimentos pra marcar meu tempo. a essa altura, já tinha perdido (?!) muita aula na faculdade falando sobre bicicleta, aprendendo cada dia uma coisa nova, ficando encantada com as histórias que eu ouvia. comecei a andar com ciclistas e respirar bicicleta. na agência que eu trabalhava, todo mundo ia de bicicleta. minha amiga que trabalhava comigo comecou a passar na minha casa pra me buscar e a gente ir juntas e foi assim que rompi a barreira das distâncias grandes fora do parque, a subir e descer da calçada, a perder o medo de cair, a descer a dr. timóteo sem medo. eu me sentia mais disposta no trabalho, passava o dia inteiro de bom humor, acabava minha pauta ainda durante a manhã. mas ainda chegava ofegante, coisa que com o tempo eu nem ligava mais. e com o tempo, minha amiga me encheu o saco pra pegar o trânsito. e lá fui eu, pro trânsito com ela descobrir uma outra cidade. meu colega tinha me dito pra pedir um bike anjo e eu tinha atendido o pedido na mesma hora. conversava com o bike anjo no facebook, cancelei a aula duas vezes nem sei mais o motivo, e ele começou a me chamar pra ir pra lá e pra cá. claro que eu não ia. mas ia pro trabalho e andava no parque e naquele momento, me bastava. mas eu andava no trânsito com minha colega sem saber as regras de trânsito, sem conhecer o CTB, sem saber sinalizar. e a gente passava o dia inteiro na agência conversando sobre bicicleta entre uma pauta e outra. minha bicicleta comecou a me irritar. ela tinha marcha e eu nunca usava, era roda livre e eu não parava de pedalar nunca porque me sentia mais segura pedalando o tempo inteiro, precisava subir escada e ela era pesada, o selim me machucava. definitivamente eu precisava de uma nova. meu pai tinha dito que só ia me dar outra se fosse uma mtb e a única certeza que eu tinha era que não queria saber de marchas, de jeito nenhum. mas… eu também tinha saído da agência e não tinha dinheiro pra comprar uma nova. enquanto não rolava grana, ficava com aquela mesmo. reclamando toda hora. um belo dia, teve uma corrida de bicicleta. eu decidi ir lá ver qual era e fotografar. minha amiga prometeu que ia correr comigo o tempo inteiro porque queria chegar em último lugar – eu tinha certeza que ia chegar em último. mais gente me incentivou e quando vi, eu tava inscrita. cheguei no final da primeira quadra e OPA CADÊ MINHA AMIGA? ela tava lá na frente, nem sei onde. passou o grupo de apoio por mim perguntando se tava tudo ok. e eu numa boa, se sentia medo, deixava passarem por mim. se um ônibus ou taxi se aproximavam, eu parava. sinal vermelho? parava também. dei uma volta no parque e parei. não sentia minhas mãos porque elas formigavam sem parar, então decidi que era meu limite. resultado: cheguei em último e minha amiga tinha parado no meio do caminho pra me esperar, ela passou por mim e eu não vi e nem ela me viu. porém, eu tinha corrido-sozinha-de-biciceta-no-meio-do-trânsito-de-noite e não fazia nem um ano que eu tinha aprendido a pedalar. naquele dia descobri que eu podia fazer o que eu quisesse, que o trânsito não era um monstro de sete cabeças e que a liberdade… ahhhh, a liberdade. naquele dia eu me apaixonei de vez. segui pedalando e com minha alimentação, tudo era lindo. eu andava com ciclistas vegetarianos e veganos e ou o assunto era comida ou bicicleta (e outros que não vem ao caso) e isso pra mim era a melhor coisa do mundo: pessoas me entendiam. meus amigos… eles não aguentavam mais. me chamavam pra comer e ou era restaurante vegano, ou não rolava. e eles não entendiam qual era o problema de tirar a calabresa da pizza, de comer batata frita ou polenta frita, de ir numa churrascaria e comer salada. fora isso, eles se irritavam porque agora eu estava sempre de bicicleta ou com algum ciclista. era aquele: “não aguento mais bicicletaaaaaaa” pra todo lado. sinceramente, eu tava pouco me fedendo pra o que eles achavam ou pra quanto tempo eu não encontrava algum. nesse momento, eu decidi que: eu tinha feito uma escolha e ou eles me aceitavam daquele jeito, ou infelizmente iam ficar no passado. alguns ficaram no passado, em um ano novo em floripa com outros, descobri o inferno que era viajar com carnívoros. então eu simplesmente não viajei mais com carnívoros, porque eu não ia abrir mão da minha alimentação pra comer batata frita e pastel de queijo. nesse ano novo, me irritei com a falta de comida na lagoa em floripa e voltei pra casa dias antes. quem ia imaginar que eu ia ficar de mau humor e chorar porque não tinha salada e fruta direito, já que todos os restaurantes tinham frutos do mar e o feijão sempre tinha carne ou caldo de algum bicho? e assim seguiu minha vida. abri mão de pessoas e momentos, mas ganhei muitos outros momentos e pessoas maravilhosas. e até comecei a fazer yoga!

QUILOS, O RETORNO.

aí chegou o ano de votação e a campanha política. e olha eu lá! vocês não devem saber mas eu sou workaholic. e em campanha, isso é meio que requisito básico. perto da base, não tinha nenhum restaurante e não dava tempo de vir em casa comer. até chegarem as coisas da cozinha (o que demorou um mês) a gente almoçava numa padaria, onde a dona era um amor e fazia pizza vegana e vegetariana pra mim e outros salgados vegan. mas haja carboidrato nesse corpo naquela campanha. apesar de levar fruta e verdura de lanche e tentar alternativas mais saudáveis durante os lanches do dia, os quilos chegaram. no primeiro mês, eu cogitava ir pra academia. saia do trabalho, ia pra academia, chegava em casa, tomava banho e pegava o turno da noite até meia-noite (que era quando fechava o relatório). mas antes mesmo de me inscrever na academia, aconteceu uma mudança no rumo das coisas e então eu não tinha mesmo tempo nem pra respirar. a rotina era bem puxada e tempo pra academia, naquele momento, não existia. e os quilos chegando. acabou o primeiro turno, entrei em outra campanha e a base era mais perto da minha casa, gracias. mas restaurante vegano perto da base não tinha e eu desenvolvi esse problema em só comer em restaurante vegano porque tenho certeza que não vai ter uma carne no meio do meu feijão ou um bacon na salada (já aconteceu). virei melhor amiga do delivery e almoçava em casa sempre que era possível – e algumas vezes, apesar de ter tempo de almoçar em casa, não tinha forças físicas pra sair da base por sono e cansaço. ou seja, mais quilos!

VICIOU DE NOVO.
mesmo que eu tentasse a opção mais saudável do delivery, que eu levasse frutas e verduras e tivesse sempre 2l de suco na minha mesa, acabava comendo muita porcaria. era o mais rápido, era o que tinha no delivery, enfim. poderia dar mil desculpas aqui, mas nenhuma serve pra mim. comi errado porque fui negligente comigo mesma e abandonei minha decisão por trabalho, fim. com isso, ganhei 10kg em 4 meses e como dei droga pesada pro meu corpo por todo esse tempo, ele se viciou de novo. ahhh a vontade da pizza, do açúcar, do queijo amarelo, do carboidrato ruim. e a mínima vontade de comer feijão. :(
resolvi fazer detox quando acabou a campanha. não aguentei tanto tempo e decidi ir aos poucos. os ataques na geladeira voltaram, o desespero por um doce aparecia no meio do dia e quando eu menos esperava. muitas vezes eu conseguia resistir. em muitas outras, eu ficava tão fissurada como um usuário de drogas. eu PRECISAVA comer aquilo. e foi então que eu aprendi que comida realmente vicia.
 
O TRÁFICO DE DOCES E CARBOIDRATOS.
 
eu continuava comprando minhas comidas na feira, continuava com a mesma lista do supermercado de sempre. como eu conseguia essa porcarias? bem, minha mãe nunca teve disciplina alimentar nenhuma e nunca respeitou a minha. ela chegou a me comprar açúcar quando eu dizia que não podia comer por ordem médica, porque ela achava que “só um bombom não teria problema”. quando ela viu que durante a campanha eu me alimentava dessas porcarias todas, ela mesma passou a encher a geladeira e a dispensa com tudo isso. eu passava reto mas tive muitas recaídas. muitas vezes disse que não podia comer, que não era pra ela comprar. infelizmente a forma que minha mãe tem de demonstrar afeto é com comidas. ela não sabe cozinhar, diz até hoje que não entende minha alimentação e não sabe o que eu posso comer, não sabe ler rótulos e se irrita quando eu digo que não vou comer me dizendo que “não sei mais o que eu vou comprar pra ti comer!”. eu canso de repetir que não preciso de nada e ela me responde que só tem minhas compras da feira e “as mil farinhas” – aveia, linhaça, quinoa, amaranto, farinha integral, farinha de arroz, farinha de amêndoas, granola saudável, essas coisas.
 
TRINTA E UM DE DEZEMBRO DE DOIS MIL E QUATORZE.
fiquei na cidade, encontrei minha amiga em um bar depois da ceia e fomos em uma festa. bebi 2 chopes, uma vodka com redbull, menos de 4 copos de cerveja e duas taças de champanhe durante a noite inteira, até 8h da manhã.
em 2013 eu parei de fumar cigarro e comecei a fumar tabaco. e uma das minhas terapias era fechar meu próprio tabaco. :~ as vezes ficava meia hora fechando um distraída e no fim, nem fumava. era só o fato de fechar mesmo.
no ano novo, saí previnida: 1 saquinho e meio de tabaco orgânico, uma caixinha de seda (com 50 unidades), 50 filtros e três isqueiros (sacumé, se perder um…). perdi os três isqueiros no meio da festa nessas de “me empresta e já te devolvo”. e fumei, jesus, como fumei. foram uns 30 tabacos.
tinha vontade de fumar, mas não tinha a mínima vontade de beber. acordei dia primeiro. olhei o tabaco e falei pela primeira vez na vida com vontade: chega. olhei a cerveja que meu primo tinha comprado e falei: esse ano não. bebi um copo de coca-cola e avisei: chega de vez.
e assim eu parei de fumar, de beber e de beber refrigerante no ano novo.
 
AHHH! A ASMA.
advinhem o que eu fiz com meu primeiro salário? comprei as peças da minha bicicletinha e mandei a do meu pai pra praia, já que eu nem tinha mais vontade de pedalar nela quando as peças da nova começaram a chegar. e era cada peça tão linda, cada coisinha mais brilhante e zaz. :~ eu andava apaixonada por essa coisa e comprar peça por peça e escolher tudo e estudar peça por peça e ver se encaixa ou não. a bicicletinha chegou dia 5 de novembro. uma fixa linda que ia me levar a loucura do amor. well… algum tempo pedalando e ela me levou a loucura da falta de ar mesmo. em novembro e dezembro eu usava a bombinha da asma mais de 4x ao dia. em janeiro, coloquei um jato do aerolin e fiquei tonta. no outro dia, utilizei e fiquei tonta novamente. fora isso, meu coração agora andava disparando – efeito colateral do aerolin. e pra completar, tive laringite e mal conseguia respirar mesmo com o remédio. cheguei no pneumologista preocupada com o pulmão, ansiosa por um novo medicamento e querendo saber o que ele ia me dizer. fui uma das primeiras dez pacientes dele depois que ele se formou na faculdade e fui a primeira que ele fez espirometria, assim como a primeira que ele receitou alguns remédios novos – participei de estudos também. ele puxou minha ficha inteira, me examinou e disse: olha, já te vi pior. me deu um remédio que não tinha nada de novo: eu tinha sido a primeira paciente que ele tinha receitado aquele remédio na vida e tinha sido esse o remédio que tinha curado minha asma. e trocou o aerolin. ou seja, voltei pro tratamento preventivo. mas eu tinha parado de fumar e isso era maravilhoso. 
 
A LIBERDADE!
no fim da consulta, depois de colocar a vida em dia e rir bastante, eu perguntei meio sem jeito, sabendo que eu ia ouvir um não: “eu posso correr? tem alguma chance de eu correr?” ele deu risada e disse: “pode, vai correr”. como assim “pode, vai correr”, cara pálida? você era o cara que me deixava no canto na educação física, cacete! você só me liberava pra natação ou musculação e agora me diz assim, como quem pede uma pizza?
ele teve que dizer que eu podia correr umas três vezes. eu quis saber se meu coração ia aguentar numa boa e ele deu risada e disse que sim. quis saber se não tinha problema mesmo, já que o aerolin tinha disparado o bichinho. ele disse que não e que era normal disparar depois de atividade esportiva, um tempo depois voltava ao normal. eu falei que mal tinha fôlego pra pedalar e ele disse que se eu corresse, ia aumentar meu fôlego. por último, eu quis saber: tem CERTEZA que eu não vou ter uma crise de asma e morrer? tem CERTEZA que eu posso correr sem medo?
o filho da puta riu da minha cara de novo e disse que tinha certeza e que era pra eu ir correr.
usei o remédio preventivo por uma semana antes de começar a corrida. baixei os aplicativos de corrida que aceitavam corrida na esteira, já que o <3 Strava <3 só aceita em ambiente externo. testei funcionalidades, li sobre roupas de corrida, li muito sobre corridas, tabelas de treinos, o que comer antes e depois de correr, o tênis ideal pra cada pisada, descobri meu tipo de pisada. decidi que ia ficar com o nike+running mesmo e comecei caminhando, depois caminhando rápido e assim fui até ir melhorando aos poucos, sem pressa. segundo minha planilha de 190km em 2 meses, faltam 2 semanas pros 190km. e essa noite fechei os primeiros 110km da minha vida. :)
 
MAS E O PESO???
 
ele vai embora. aos poucos. pra nunca mais voltar. já foram 2kg!
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pequenas grandes coisas da vida.

alguns dias atras ouvi de uma amiga de muitos e muitos anos a qual compartilhamos muitas e muitas loucuras por essa vida a seguinte frase:

a bicicleta me fez parar de cheirar. eu precisava estar bem pra pedalar cada vez melhor, aí não dava pra ficar cheirando, então eu parei… pra pedalar.

alguns dias depois, outro amigo de muitos e muitos anos e o qual compartilhamos muitas e muitas loucuras por essa vida, me encontrou pela rua. sem barba, trabalhando e… sóbrio.

eu mudei né. comecei a pedalar, tenho duas bicicletas. não dá pra ficar bebendo toda hora.

e essas certamente foram as duas melhores frases de 2014. mesmo que o ano esteja só na metade. gratidão, nossa senhora da bicicletinha. <3

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Definição de Avô

:)

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wokeneyes:

AWWW OMG

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